Pedro Sarmiento de Gamboa

Nascimento: 1530, España

Cosmógrafo, navegador e governador das terras do Estreito de Magalhães, autor de “Viage al Estrecho de Magallanes em los años de 1579-1580 y noticia de la expedicion que despues hizo para poblarle

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Nomeado “governador das terras do Estreito de Magalhães” em 1580 por Filipe II, Pedro Sarmiento de Gamboa foi responsável pelas povoações e pela construção dos fortes na região. Em uma de suas obras mais famosas, publicada sob o título “Viage al Estrecho de Magallanes em los años de 1579-1580 y noticia de la expedicion que despues hizo para poblarle”, o cronista descreveu sua jornada partindo do Peru para combater o corsário inglês Francis Drake e, depois, relatou a travessia que fez do Estreito de Magalhães, a primeira que ocorreu no sentido oeste-leste. O cosmógrafo após explorar os canais do Estreito, navegou rumo à Espanha para apresentar ao rei Filipe II a sua proposta de edificação de dois fortes na entrada do Estreito, que teriam a finalidade de obstaculizar a passagem de corsários das costas do Atlântico para o Pacífico.

De origem familiar gallega, Sarmiento encontrava-se, desde 1555, na América espanhola, sendo provável que estivesse, há vinte anos, no Peru (Miguel Barros, 2006: 26). Com capacidades multifacetadas, como militar, cosmógrafo e geógrafo, Pedro Sarmiento era também cronista, tendo deixado várias relaciones, diversos memoriales, poesias e a famosa “Historia de los Incas”, escrita em 1572. Pedro Sarmiento de Gamboa foi escolhido para chefiar a expedição de perseguição a Francis Drake. A expedição de combate a Drake, plenamente aprovisionada de armas e munições, navegou para os mares do sul, à espera do retorno do corsário inglês para o Estreito com o fruto dos seus saques. Por sua vez, Francis Drake decidiu cruzar o Pacífico, alcançar as Molucas, e, utilizando o caminho português para as Índias, contornar o Cabo da Boa Esperança retornando a Plymouth, três anos após a sua partida, concluindo a segunda circunavegação da Terra. O corsário saqueador das terras e naus espanholas foi recebido na Inglaterra com honras de herói e condecorado com o título de Sir pela Rainha (Wallis, 1984: 122).

Malograda teria sido a viagem de Pedro Sarmiento para o Estreito, se outras razões tão mais importantes que o combate a Drake não a tivessem motivado. A Instruccion por ele recebida do Vice-Rei do Peru, dentre outras recomendações, as explicitava:

“VI. Al tiempo que os halláredes en la altura de la Entrada del Estrecho iréis con mucho mayor cuidado de ver todas las particularidades de Mar e Tierra que halláredes atendiendo á las comodidades de Poblaciones que por alli puede haber  […]  y procurad con vigilancia saber todas las Bocas que tiene el dicho Estrecho á la entrada por esta Mar, y medirlas poniéndoles nombres á quantas fueren, midiéndolas así por lo ancho como por lo fondo, y mirando en qual dellas hai mayores comodidades para fortalecerlas.”

Sarmiento de Gamboa percorreu o Estreito de Magalhães, no sentido leste-oeste, em trinta e dois dias, elaborando um levantamento detalhado das condições e características do local, em cumprimento às Instruções que havia recebido do monarca. Ao se deparar com o Atlântico, Sarmiento navegou rumo à Espanha para fazer a entrega do seu relatório ao rei. Depois de três meses em mar alto, chegou com sua embarcação ao porto de Santiago no Cabo Verde.  De acordo com seu relato, “fueron barcos del Pueblo á saber qué Nao era, y la gente que era, y de onde venía: e como se les dixo que éramos del Pirú, y veníamos de allá por el Estrecho de Magallánes, enmudecían no creyéndolo, y teniéndolo por imposible (…)” (Sarmiento de Gamboa, 1768: 342).

Durante a sua permanência na ilha de Santiago, onde aportavam naus que singravam o Atlântico, Sarmiento procurou, já que os ventos o tinham levado a navegar para longe da costa brasileira, obter notícias diversas sobre incursões de corsários e piratas e a presença de forasteiros nas terras americanas, o que nas suas palavras “esto determine cumplir lo quel Virrei en su Instruccion me manda, que es darle aviso y razon de todo lo subcedido en este Viage y Descubrimiento hasta este punto porque por el Paraguai , ni Brasil no fue posible por las corrientes […].” (Sarmiento de Gamboa, 1768: 350).

Quando Pedro Sarmiento de Gamboa chegou à Espanha, em agosto de 1580, trazendo o relatório da sua investigação no Estreito de Magalhães para apresentar a Filipe II, o rei se encontrava, há meses, na cidade espanhola de Badajoz, fronteiriça a Portugal, onde concentrara seu exército de 47 mil homens para adentrar o país vizinho, reclamando seu direito à Coroa lusitana (Kamen, 2003: 257). Àquela altura, Filipe II já sabedor, há cerca de um ano, das pilhagens de Drake, tinha recebido parecer do Vice-Rei do Peru sugerindo que a melhor solução, a curto prazo, seria a construção de embarcações para patrulhamento da entrada do Estreito. Essa providência, após aprovação do Consejo de Indias, havia se iniciado, mas foi interrompida pela carência de fundos da Coroa (Philips, 2016: 8-9). Preocupações várias do Rei com acontecimentos em que os espanhóis estavam envolvidos diretamente vinham postergando a execução da emergente medida proposta.

Pedro Sarmiento de Gamboa, tão logo chegou à Espanha, deslocou-se para Badajoz para apresentar ao Rei o relato da sua viagem e expor as suas considerações sobre a defesa do Estreito. Conforme Cesáreo Fernandez Duro:

“Dieron mucho que pensar al rey D. Felipe los informes que de palabra y por escrito le hizo en Badajoz Sarmiento sosteniendo, en resumen, la posibilidad de asegurar el dominio del Estrecho de Magallanes construyendo en la parte más angosta dos fuertes en opuestas orillas, y fundando en la inmediación dos poblaciones que podrían muy bien sustentarse por sí solas […]” (Fernandez Duro, 1897: 357)

Filipe II submeteu a proposta de Sarmiento de Gamboa ao Consejo de Indias, e pediu a avaliação de conhecedores da matéria, como o cosmógrafo Juan Bautista Gesio. Apesar da contestação por parte de alguns conselheiros reais, sob alegação do elevado custo da empreitada em relação à construção de embarcações, o monarca decidiu aprovar o plano de Pedro Sarmiento. Como se veria posteriormente, as agressivas condições do local não permitiam um aumento significativo da navegação marítima para o Pacífico através do Estreito de Magalhães. As informações, não muito corretas, sobre o lugar, trazidas por Sarmiento de Gamboa, provavelmente influenciaram na decisão real de construção dos dois fortes no Estreito, que serviriam como defesas que desestimulassem a repetição, por outros corsários, da empreitada de Drake, criando uma rota de navegação para o Pacífico pela região, com reflexos na segurança das possessões castelhanas do Chile e Peru.

Em fevereiro de 1581 foram iniciados os preparativos para a realização da empresa constituída por Filipe II, uma comissão para tratar dos diversos aspectos do empreendimento. Um grupo de engenheiros de origem italiana que então serviam à Monarquia Hispânica analisava os detalhes construtivos do projeto dos fortes. Sob a liderança de Juan Bautista Antonelli e do seu irmão homônimo mais moço, conhecido como Bautista Antonelli, também participavam com críticas e sugestões os engenheiros Tiburcio Spannocchi e Giacomo Palearo, el Fratín (Zuleta Carrandi, 2013: 159). Nessas discussões, Sarmiento de Gamboa se fazia presente com os dados e informações que coletara sobre a região na sua viagem ao Estreito.

O porte da empresa requeria um comandante qualificado, o que fez Filipe II decidir colocar a empreitada sob as ordens do capitão-general Diego Flores de Valdés, um dos mais destacados e experientes navegadores da armada da Espanha, com mais de trinta anos a serviços da Coroa. Essa escolha desagradou a Pedro Sarmiento de Gamboa que imaginava, por ter persuadido Filipe II à adoção do seu plano de construção de fortes e colonização do Estreito, deveria caber a ele o comando da empresa. No entanto, o monarca decidiu designar Sarmiento de Gamboa como Governador das terras a serem ocupadas e colonizadas no Estreito de Magalhães. Essa decisão do rei teria desdobramentos no desfecho da expedição e na visão histórica que se formou dos acontecimentos da jornada, sempre coadunada com a narrativa de Sarmiento de Gamboa.


BIBLIOGRAFIA

Fernandez Duro, C. (1897). Historia de la Armada española desde la unión de los Reinos de Castilla y Aragón (1894-1903, en nueve volúmenes), Tomo II. Madrid: Establecimiento tipográfico Suc. Rivadeneyra.

Kamen, H. (2003). Filipe da Espanha. Tradução de Vera Mello Joscelyne. Rio de Janeiro: Editora Record.

Miguel Barros, J. (2006). Pedro Sarmiento de Gamboa. Avatares de un caballero de Galicia. Santiago de Chile: Editorial Universitaria.

Philips, C. R. (2016). The struggle for the South Atlantic: the Armada of the Strait, 1581-1584. Abingdon, Oxon; New York, NY: Routledge for the Hakluyt Society.

Sarmiento de Gamboa, P. (1942). Historia de los Incas (1572). Buenos Aires: Emecé.

Sarmiento de Gamboa, P. (1768). Viage al Estrecho de Magallanes por el Capitán Pedro Sarmiento de Gamboa en los años de 1579 y 1580 y noticia de la expedición que después hizo para poblarle. Madrid: En la Imprenta Real de la Gazeta.

Wallis, H. (1984). The Cartography of Drake’s Voyage. En Thrower, N. J. W. (Ed.). Sir Francis Drake and the famous voyage, 1577-1580. Essays commemorating the quadricentennial of Drake’s circumnavigation of the Earth. Los Angeles: University of California Press.

Zuleta Carrandi, J. (2013). La fortificación del estrecho de Magallanes: un proyecto al servicio de la imagen de la monarquía. Revista Complutense de Historia de América, vol. 39.

Sylvia Brito (Biblioteca Nacional de Brasil)

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