Nascimento: Olinda, 1580
Falecimento: Madrid, 1640.
Mercador
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Comerciante de origem portuguesa. Desenvolveu o seu negócio tanto na Ásia como no Brasil, utilizando o seu capital acumulado para se envolver nos assuntos da Coroa de Castela. Desta forma, tornou-se um dos principais financiadores de Filipe IV, destacando-se como exemplo da estreita inter-relação entre os circuitos comerciais do Atlântico Ibérico e da Carreira da Índia.
Manoel da Paz nasceu em Olinda em 1580. Era o filho de Diogo Fernandes Camaragibe e Ana de Paz, ambos de famílias com fortunas baseadas em negócios com o Brasil. Após a morte da sua mãe, o segundo casamento do seu pai trouxe Manoel para a família Tinoco, intimamente ligada ao negócio da Carreira da Índia. Como resultado desta união, Manoel cresceu em Lisboa com o seu meio-irmão, Fernando Tinoco (Boyajian, 2001: 479).
Manoel casou com Isabel Dinis Pacheco a 8 de Janeiro de 1618, através da qual foi ligado a Duarte Gomes Solis, e a André e António Faleiro, importantes comerciantes em Antuérpia, Hamburgo e Veneza. Mais tarde, a sua relação com o Gomes Solis tornou-se ainda mais estreita quando a sua filha Violante de Paz casou com Filipe Dinis Pacheco. (Almeida, 2009: 526).
Do lado dos seus pais, Manoel estava intimamente ligado ao negócio do açúcar e da escravatura no Brasil. Do lado do seu pai, era sobrinho de Duarte Fernandes do Brasil, Simão Rodrigues do Brasil e António Dias do Porto, comerciantes de açúcar e de escravos. Do lado materno, era parente de importantes senhores de engenho (Almeida, 2009: 526).
Apesar disto, e do facto de, após a morte do seu pai em 1608, ter herdado uma grande fortuna brasileira, Manoel iniciou a sua carreira profissional gerindo o negócio da família Tinoco na Ásia. Para este fim, nesse mesmo ano embarcou para Goa juntamente com o seu primo Francisco Tinoco de Carvalho. Uma vez lá, os dois viajaram frequentemente ao longo da costa ocidental da Índia como aprendizes dos comerciantes Pedro Fernandes d’Aires e Francisco d’Aires. Manoel da Paz comercializava principalmente diamantes, pérolas, pedras preciosas, sedas, algodão, porcelanas e anil, e enviava frequentemente sacos de diamantes aos seus familiares em Hamburgo, Antuérpia e Amsterdã. (Almeida, 2009: 526).
Anos mais tarde, em 1616, Manoel regressou a Lisboa. Na viagem de regresso, o navio em que viajava, Nossa Senhora da Luz, naufragou na ilha do Faial (Açores). Uma vez em Lisboa, Manoel adquiriu o estatuto de fidalgo da Casa Real e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Também de Lisboa, Manoel continuou a investir no comércio do Leste, empregando o seu primo Francisco Tinoco de Carvalho como seu correspondente. De facto, mais tarde em 1630 participou no financiamento da Companhia Portuguesa das Índias (Almeida, 2009: 526).
Em 1627 recebeu autorização real para se mudar para Madrid com a sua família e propriedade. Ali se estabeleceu na Carrera de San Jerónimo, ao lado do Palácio del Retiro, cuja construção financiou. Esta mudança pode ter ficado a dever-se ao facto de, a partir de 1626, Manoel se ter tornado empreiteiro do Conselho do Tesouro de Philip IV. Nesse mesmo ano, e até 1639, participou como assessor da Coroa, altura em que já era um dos financiadores mais importantes. A sede que assinou em 1626, juntamente com as dos comerciantes Nuno Dias Mendes de Brito, Duarte Fernandes, Simão Soares, João Nunes Saraiva e Manoel Rodrigues de Elvas, ascendeu a um valor total de mais de 400.000 ducados, todos a pagar na Flandres (Almeida, 2009: 5); (Almeida, 2009: 527; Gruzinski, 2006: 233; Hutz, 2014: 78).
De Madrid, Manoel continuou a gerir o seu negócio na Ásia, bem como operações relacionadas com o comércio de açúcar e pau brasil através do seu agente em Salvador de Bahía, Francisco Duarte Tinoco, e o seu primo Manuel Rodrigues do Porto, em Olinda. Para realizar estes negócios associou-se a Gonçalo Nunes de Sepúlveda, um antigo comerciante de escravos e capitalista proeminente em Madrid. Foi em parte esta ligação que abriu o caminho para Manoel se tornar um assentista da Coroa (Alencastro, 2000: 103)
Após o Conde-Duque de Olivares ter anunciado a falência da Coroa em 1627, substituiu os banqueiros genoveses que até então tinham financiado as suas empresas com homens de negócios portugueses. Outros nomes foram adicionados aos já mencionados, tais como Simão e Lourenço Pereira e Duarte Dias Henriques em 1627, e Marcos Fernandes Monsanto, Garcia d’Ilhão e Pedro de Baeça da Silveira em 1629. (Boyajian, 1983: 24). Nos anos seguintes, alguns familiares de Manoel de Paz também participaram no asiento, como o seu meio-irmão Simão Tinoco, o seu cunhado Manuel Álvares Pinto e Ribeiro, ou os seus primos Manuel Fernandes Tinoco, Francisco Tinoco de Carvalho, e António Ribeiro de Carvalho. Mas outros comerciantes também: Capitão Gonçalo Nunes de Sepúlveda, Rui Lopes da Silva, Jorge Ribeiro Quaresma, Francisco Fernandes Solis, e Francisco Dias Mendes de Brito. (Almeida, 2009: 527; Boyajian, 2001: 479; Álvarez Nogal, 1997: 98-99).
Finalmente, em 1639, com a sua carreira de homem de negócios agora terminada, Manoel da Paz retirou-se dos lugares, sendo substituído primeiro pelo seu meio-irmão Fernando Tinoco, e depois pelo seu genro Felipe Denis Pacheco, que continuou as suas actividades financeiras até pelo menos 1650 (Boyajian, 1983: 29).
BIBLIOGRAFIA
Alencastro, L.F. de (2000). O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras.
Almeida, A.A. (dir.) (2009). Dicionário Histórico dos Sefarditas Portugueses. Mercadores e Gente de Trato. Lisboa: Campo da Comunicação.
Álvarez Nogal, C. (1997). Los banqueros de Felipe IV y los metales preciosos americanos (1621-1665). Madrid: Banco de España; Servicio de Estudios de Historia Económica, nº 36.
Boyajian, J.C. (2001). New Christians and Jews in the sugar trade, 1550-1750: two centuries of development of the Atlantic economy. En Bernardini, P., Fiering, N. (eds.). The jews and the expansión of Europe to the West, 1450-1800. New York: Berghahn Books.
Boyajian, J.C. (1983). Portuguese Bankers at the Court of Spain, 1626-1650. New Brunswick, NJ: Rutgers University Press.
Gruzinski, S. (2006). Mundialización, globalización y mestizaje en la Monarquía Católica. En Chartier, R.; Feros, A. (dirs.). Europa, América y el mundo. Tiempos históricos. Madrid: Marcial Pons
Hutz, A. (2014). Homens de Nação e de Negócio. Redes comerciais no mundo ibérico (1580-1640) (Tesis de Doctorado). Universidade de São Paulo, São Paulo.
Pablo Cañón (European University Institute)