Local e data de nascimento: Liebstadt, Alemanha 1610
Local e data de falecimento: Angola, 1644
Astrônomo, cartógrafo e naturalista, no Brasil entre 1638 e 1644. Participou de 7 expedições que lhe permitiram realizar um levantamento topográfico detalhado entre 1640 e 1642. Após sua morte em 1644, a Companhia das Índias Ocidentais (WIC) publicou o famoso mapa mural Brasília qua Parte Paret Belgis.
Base de dados BRASILHIS: https://brasilhis.usal.es/es/personaje/georg-marcgraf-markgraf-o-marcgrave
Viajou ao Brasil para participar de projetos científicos a serviço do Governador-Geral do Brasil Holandês, Johan Maurits van Nassau-Siegen (1637-1644), e da Geoctroyeerde West-Indische Compagnie (Companhia das Índias Ocidentais, WIC). Ocupando lugar de destaque entre um notável grupo de estudiosos e pintores reunidos na corte brasileira do conde alemão (PARKER, 2001). A residência do cristão novo Pedro Alves, que foi confiscada pelo WIC, será o palácio de Maurice Nassau em Mauritsstad (Recife), que se tornará o primeiro centro astronômico europeu nas Américas, onde Marcgraf e outros membros da corte de Nassau viveram e realizaram vários projetos de pesquisa. Cientistas e engenheiros realizarão diversas observações astronômicas a partir deste centro, além de organizar uma série de expedições para coletar espécies, compilar dados topográficos e observar a fauna e flora do nordeste brasileiro (BARBOSA, 2013).
Astrônomo, cartógrafo e naturalista, fixou-se no Brasil entre 1638 e 1644, realizando minucioso levantamento topográfico durante as 7 expedições que participa entre 1640-1642 e que lhe permitiram percorrer 800 km ao longo da costa e 80 km para o interior em holandês Brasil. Nessas explorações, entre as contribuições mais notáveis que registra estão os levantamentos de localidades existentes na costa brasileira, que fornecem medições e observações muito detalhadas, além de informações marcantes do interior do território. Esses documentos foram compilados por Mauricio de Nassau, após sua morte na África, e entregues a Johannes de Laet, diretor do (WIC), para serem publicados.
Dessa forma, os mapas de Marcgraf eram instrumentos a serviço das tropas holandesas, facilitando o deslocamento entre as fortalezas espalhadas ao longo da costa brasileira, entre Alagoas e Ceará. Embora também servissem para mostrar o Brasil holandês na Europa, o mapa mural Brasília qua Parte Paret Belgis, publicado em 1647, serviu como propaganda política.
Ao trabalho cartográfico que Georg Marcgraf realizou em 1643, ainda no Brasil, somaram-se vinhetas atribuídas ao paisagista Frans Post, que deve ter se beneficiado da intensa atividade cartográfica da Companhia das Índias Ocidentais do Recife. Enquanto Albert Eckaouth, outro grande pintor flamengo, de origem alemã, dedicou-se à pintura de instrumentos e objetos etnográficos, aos quais Mauricio de Nassau deu uso político após sua exposição no seu palácio de Vrijburg. Mostrando com essas pinturas inseridas no mapa de parede de Marcgraf, as diferentes etnias que compunham o imaginário social que os holandeses recriaram a partir dos habitantes do Brasil.
Durante o século XVII, muitos cartógrafos, como Hessel Gerritsz, Joanes Blaeu, Joan Vingboons e Georg Marcgraf, todos contratados pela WIC, teriam tido informações dos nativos para composições topográficas com localizações de áreas indígenas. A verdade é que sem essas informações obtidas no Brasil ou na Europa não teria sido possível ter tantos detalhes e poder realizar as conquistas usando um grande número de nomes de lugares indígenas, tais como os que aparecem nos mapas do século XVII. Enquanto isso, na Europa, o jesuíta Manuel de Morais, que depois de fugir para a Holanda estudou em Leiden, colaborou com cartógrafos holandeses, completando as informações dos índios Potiguares, que haviam chegado à Holanda. Desta forma, o jesuíta participou da elaboração dos mapas das conquistas holandesas ̶ e das obras de Joan Vingboons ̶ assim como do vocabulário em Tupi/Latina no trabalho do médico Willem Piso, Johannes de Laet e Georg Marcgraf Historia Naturalis Brasiliae publicado em 1648 (VAINFAS, 2008).
Como afirma Cabral de Mello, os holandeses não só dispunham de recursos financeiros para ocupar o Nordeste brasileiro, como também davam continuidade a uma rica tradição cartográfica desde o século XVI. Textos holandeses e portugueses, mapas e descrições detalhadas da costa, estudos econômicos das plantações de açúcar e do custo econômico da invasão foram acompanhados por extensa literatura náutica de pilotos e marinheiros holandeses e portugueses (CABRAL DE MELLO, 2010). A produção de mapas impressos financiada pelo WIC em Amsterdã apresentou trabalhos dirigidos por Jean Bleau e Johannes de Laet, entre outros. De Laet, no Novus Orbis publicado em francês em 1640, tinha a tarefa de resumir os espaços holandeses entre os continentes do globo. Embora estes, juntamente com os mapas Vingboons e Marcgraf, nos forneçam uma visão de algumas áreas e espaços indígenas e afro-brasileiros em um período de contato e/ou domínio sobre territórios nativos (BARBOSA, 2013).
Ao contrário dos cartógrafos que coletavam dados das experiências alheias e daqueles que delas participavam indiretamente, Marcgraf explorou todo o Nordeste do Brasil acompanhando as tropas holandesas. Em 1644 ele morreu em Angola fazendo a mesma comissão para o Wic nas possessões holandesas na África Central.
BIBLIOGRAFIA
Barbosa, Bartira Ferraz; Ruiz-Peinado, José Luis; Piqueiras, Ricardo; Scott, Joseph Allen. (2013). Afroindigenous Spaces on the Map; Brasilia qua Parte Paret Belgis. Editora Univérsitaria (UFPE)/Universitat de Barcelona, Barcelona.
Cabral de Mello, Evaldo.(2010). O Brasil holandés (1630-1654). Companhia das Letras, São Paulo.
Parker, Rebecca. (2001). “Georg Marcgraf (1610 – c. 1644): cartógrafo, astrónomo y naturalista e ilustrador alemán en el Brasil colonial holandés”. Itinerario, 25 (1), 85-122. doi:10.1017/S0165115300005581
Piso, Willem; Marcgraf, Georg,; Laet, Ioannes de. (1648). Historia naturalis Brasiliae … : in qua non tantum plantae et animalia, sed et indigenarum morbi, ingenia et mores describuntur et iconibus supra quingentas illustrant. Impresor Franciscus Hackius & Louis Elzevir, Amsterdam.
Russell-Wood, Anthony John (1998) Um mundo em movimento. Os portugueses na África, Ásia e América (1415-1808). Difel, Lisboa.
Vainfas, Ronaldo. (2008). Traição. Um jesuíta a serviço do Brasil holandês processado pela Inquisição. São Paulo, Companhia das Letras.
Autor:
José Luis Ruíz Peinado (Universitat de Barcelona)Como citar este verbete:
José Luis Ruíz Peinado. “Georg Marcgraf (Markgraf ou Marcgrave)“. Em: BRASILHIS Dictionary: Dicionário Biográfico e Temático do Brasil na Monarquia Hispânica (1580-1640). Disponível em: https://brasilhisdictionary.usal.es/pt/george-marcgraf-markgraf-o-marcgrave-2/. Data de aceso: 09/10/2024.