Nascimento: 1555, Évora.
Boticário.
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Boticário de origem portuguesa. Morava e trabalhava na cidade de Olinda, na Capitania de Pernambuco. Sua botica e moradia localizavam-se em frente à Misericórdia da vila. Atuou também como comerciante e carregador de açúcar.
O Boticário Luís Antunes, cristão-novo, nasceu em Évora, por volta de 1555. Filho de Rui Gomes, ourives, e de Guiomar Lopes (os nomes de seus pais aparecem também com grafias distintas: Ruy Gomez e Guimar Lopez), que também eram pais de Isabel Roiz e Lianor Gomes. Todos eram moradores da capitania de Pernambuco, por volta de 1593. Luís Antunes, sua mulher, assim como seus pais, residiam em frente à Misericórdia de Olinda.
Luís Antunes chegou ao Brasil, junto com sua família, por volta do ano de 1579, quando seu pai foi condenado ao degredo por “cercear moeda”. Rui Gomes era proprietário de uma loja/oficina em Olinda.
De acordo com o processo inquisitorial de 22 de novembro de 1593 (“Luís Antunes contra João Soares Pereira”), em torno do ano de 1577, Antunes era aprendiz, em Lisboa, na botica de Garcia Nunes (em frente a Madalena).
Em 1591, sua Carta de Boticário é expedida em Lisboa para atuar “em Pernambuco e em outras partes do Brasil”. Neste momento, provavelmente, já estava casado com Maria Alvares, cristã-nova e natural de Lisboa, e exercendo a profissão de boticário em Olinda.
Foi muito conhecido, conforme as menções nos processos de outros membros de sua família, sobretudo de seu pai. A única denúncia feita contra ele, Luís Antunes, tem relação com uma acusação feita contra seu pai. Rui Gomes havia sido denunciado, no dia 12 de agosto de 1595, por Cibaldo Lins, por não trabalhar nos sábados.
Essa denúncia influenciou ao padre João Baptista, sacerdote da Companhia de Jesus de Pernambuco, a denunciar a Luís Antunes, em 17 de agosto de 1595. Em 1593, havia encontrado a Luís Antunes em uma loja comprando tecidos para sua mãe, que lhe havia pedido para fazer uma roupa nova. O ato em si não parecia agravante, mas foi relevante o fato de ser filho de um judaizante.
O pai de Luís Antunes foi denunciado também por João Picardo em duas ocasiões: a primeira em 26 de agosto de 1594; y a segunda vez em 31 de agosto de 1595 (Primeira visitação do Santo Ofício às partes do Brasil: Denunciações e Confissões de Pernambuco 1593-1595). Em ambas denúncias o motivo era o mesmo: não trabalhar nos sábados y usar roupa limpa e/ou nova nestes dias. De acordo com Janaina Silva, o pai de Luís Antunes já havia sido penitenciado, anteriormente, em Portugal.
Tanto Luís Antunes como sua mulher, Maria Alvares, em suas denúncias tentaram reforçar que seguiam os preceitos dos bons cristãos, já que ambos possuíam parentes envolvidos em acusações relacionadas a práticas judaizantes: o pai de Luís Antunes y a mãe de sua mulher, Catarina Alvares.
Em 1593, Luís Antunes havia denunciado a João Soares Pereira, antigo cliente e amigo, sobre algo ocorrido havia mais de 18 anos, enquanto este estava na prisão em Lisboa. Havia solicitado a Luís Antunes um pouco de escamonea moída (raiz utilizada como purgante), que a boticário o deixou escandalizado já que podia ser utilizado para matar a qualquer pessoa. Quando o boticário se negou ao pedido do réu (um cristão-velho), dizendo que era “temente a Deus” e não queria ir para o inferno, este respondeu-lhe dizendo que o inferno não existia.
No caso de Maria Alvares, sua mulher, a denúncia também estava relacionada a um fato tardio, ocorrido havia mais de 5 meses. A denúncia foi feita por Maria Alvares no dia 17 de agosto de 1595, mesmo dia que seu marido fez a denúncia contra João Soares Pereira. Maria Alvares denunciava algo relacionado com a morte de Beatriz Mendes, uma cristã-nova, da qual havia sido amiga. Tendo ido à casa dos avós de Beatriz Mendes, onde o funeral estava sendo realizado, Maria Alvares havia percebido que a roupa utilizada como mortalha não era nem nova nem limpa, que seriam práticas diferentes às que se costumavam fazer entre cristãos.
Em 23 de novembro de 1595, Maria Alvares, a esposa de Luís Antunes, seria denunciada por Maria de Faria, cristã velha, a respeito de um fato ocorrido em 1592 ou 1593. Maria de Faria afirmou que neste momento encontrava-se na casa de Maria Alvares e Luís Antunes, e que contava a esposa do boticário sobre fatos que conhecia, a partir de leituras em “livros devotos”, sobre a vida de Jesus Cristo. O diálogo entre as duas teria ocorrido em uma Quarta-feira de Trevas, dia em que, segundo os relatos bíblicos, Jesus Cristo seria traído, cujo ato ocasionaria sua condenação à morte (dia seguinte, na quinta-feira). Enquanto Maria de Faria explicava, Maria Alvares havia proferido as seguintes palavras: “já que ele [Jesus] sabia que lhe iam matar porque não se guardou”; no que Maria de Faria lhe respondeu que ele havia morrido por vontade própria e que o havia feito para salvar aos pecadores (conforme os ensinamentos cristãos). E quando o visitador perguntou a denunciante sobre a intenção da pergunta da denunciada, lhe respondeu que Maria Alvares havia feito sem malicia, por não entender. E que eram amigas havia mais de quatro anos e que era boa cristã.
A maior parte das informações que existem sobre a vida do boticário Luís Antunes são decorrentes de documentação inquisitorial (as que são feitas contra ele ou alguém de sua família, mas também as denúncias que ele e sua mulher fizeram). Estas denúncias são resultado de práticas bastante frequentes durante as visitações do Santo Ofício da Inquisição ao Brasil, durante o período da Monarquia Hispânica. Estas denúncias faziam parte do que Janaina Silva denomina como “formas de negociação para assim se desvencilharem da máquina Inquisitorial”.
Provavelmente, Luís Antunes e Maria Alvares, sua esposa, participaram deste processo como uma forma de reafirmar sua posição social, como participantes da comunidade e residentes da cidade de Olinda, no período das denunciações (1593-1595). O que se pode perceber era que Luís Antunes sendo uma figura pública, (já que foi mencionado como um referente nas denúncias dos seus parentes – pai e esposa), que possuía sua botica em um dos lugares mais conhecidos do centro urbano colonial, em frente à Misericórdia, deveria ter as atenções sobre sua pessoa e as atividades que exercia.
As denúncias não eram feitas apenas como forma de esconder ou amenizar suas culpas, mas também como uma forma de, que fazendo parte do sistema, reasseguravam seu lugar de respeitabilidade e prestígio. Além disso, ao participar dos mecanismos inquisitoriais, os cristãos novos tentavam se resguardar de serem eles suspeitas de conivência com as heresias cometidas. O fato do pai de Luís Antunes ter sofrido denúncias, que influenciaram a que ele fosse também considerado suspeito, ressaltou este cuidado, do boticário e de sua esposa, de salientar suas boas reputações, com condutas atribuídas a bons cristãos.
FONTES DOCUMENTAIS:
ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. Filipe I, liv. 16, fl. 456v.
ANTT, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 1971.
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– Mendonça, J. H. de (1984). Primeira visitação do Santo Ofício às partes do Brasil: Denunciações e Confissões de Pernambuco 1593-1595. Prefácio de José Antônio Gonsalves de Mello. Recife: FUNDARPE. Diretoria de Assuntos Culturais, 1984. (9 de fevereiro de 2023). Recuperado de https://books.google.es/books/about/Primeira_visita%C3%A7%C3%A3o_do_Santo_Of%C3%ADcio_%C3%A0.html?id=bTPctAEACAAJ&redir_esc=y
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Autor:
Zeli Teresinha Company (Universidad de Salamanca)Como citar este verbete:
COMPANY, Zeli Teresinha. “Luís Antunes“. Em: BRASILHIS Dictionary: Dicionário Biográfico e Temático do Brasil na Monarquia Hispânica (1580-1640). Disponível em: https://brasilhisdictionary.usal.es/pt/luis-antunes-2/. Data de aceso: 11/12/2023.